sexta-feira, 29 de maio de 2009

Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem noódio vocês combinam. Então?Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem amenor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você amaeste cara?Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucurapor computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Esperando Godot...ou não...


Passei anos esperando a maioridade chegar sei lá porque, e hoje em dia torço para que os meses passem cada vez mais rápidos, pra chegar logo sabe-se lá o que. Passo os dias esperando uma mensagem de amor, uma carta resposta, um convite irrecusável, a proposta ideal, a paixão avassaladora, a noticia inesperada, a volta do arrependido. Contando as horas para que a vida vire de pernas pro ar com alguma pequena mudança. Os minutos esperam ansiosos o caos, e os segundos aguardam famintos a revolução.
Não sei como, nem o que tanto espero, se é alguém que vai abrir a porta e ficar ou me levar pelo braço, ou se alguém que vai me deixar, para que eu ande sozinha daqui pra frente. Se é alguma coisa que sempre quis, ou algo que nunca vi. Se vou conhecer um lugar incrível ou um inexplorado. Não sei se boa ou má é a noticia que vai chegar. Sei apenas que quando chegar, será a solução das minhas aflições. Fica a duvida é se a carta resposta traz uma bomba ou uma rosa.
Se é de amar, de brincar, de comer, ou de usar eu não sei, mas espero com a certeza de que tudo vai se resolver.
Quero logo uma surpresa, por favor. Vida, me surpreenda, não agüento mais confirmar minhas certezas nos fins das historias. Por favor.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

ausência tua.

Estava aqui pensando em como tenho reagido de forma inesperada em situações comuns. Hoje me peguei ouvindo ‘eu sei que vou te amar’, com Tom tocando piano e cantando, com a maior dor do mundo no peito. E percebi que todas as vezes que eu resolvo terminar uma paixão – e isso é muito pessoal, uma coisa minha comigo mesma – eu coloco essa música para tocar. Logo eu, que mal sei o que é amar, tampouco sei o que é por toda a vida, ouço a música e finjo que me encaixo na letra. A perda de um amor, ou de uma paixão, é sempre combustível pras mais belas canções e poesias, e eu, uso as notas e letras alheias pra fingir que são minhas, e tentar, quem sabe, acreditar que eu amei, ou amarei por toda a minha vida alguém.
Essas paixões que tenho, e que me refiro, não são grandes, nem tão dolorosas, muito menos duradouras, mas elas me tomam a cabeça e o corpo de forma que eu haja simplesmente no piloto automático, desprezando todas as possíveis dores, enfiando no bolso as possíveis chances de dar errado, e me faz seguir com fé, atrás da possível felicidade. Quando digo que chego ao fim de uma paixão, que as termino, é quando desisto, ou de gostar de mais, ou de gostar de menos.
Desesperadamente, eu sei que vou amar, por toda a minha vida, milhões de pessoas que por ela passarão. Amarei, chorarei, sofrerei as idas, vindas, ausências e presenças, e permanecerei à espera de viver ao lado de alguém. Por toda a minha vida.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

ces't la vie...

Talvez o mal é que a gente pede amor o tempo todo. Não se preocupa nunca em dar amor, sem esperar reciprocidade.

Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.

Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.